CAMPOS MACHADO SONEGA IMPOSTOS?
Candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa do
ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o deputado estadual Campos Machado
(PTB-SP) revelou, em entrevista concedida à Folha na última quinta-feira, ser
dono de um escritório de advocacia que, no entanto, não aparece na declaração de
bens entregue por ele ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Machado citou
o escritório para explicar o crescimento patrimonial que alcançou entre 2006 e
2008.
Dois dias depois da entrevista, a assessoria de Machado informou,
na manhã do sábado passado, que ele deverá corrigir hoje a sua declaração, em
ofício ao TRE, para incluir a empresa Campos & Campos Machado Advogados, que
funciona num sobrado na Vila Madalena.
O artigo 350 do Código Eleitoral
considera crime "omitir, em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, para fins eleitorais".
Em entrevista, Campos Machado
se recusou a fornecer os nomes dos clientes de seu escritório, alegando sigilo
profissional. "Esse contrato é um contrato que está sendo providenciado o
registro. É um contrato já em vigência. Você vai encontrar petições no fórum,
papéis, procurações, da Campos & Campos Machado", afirmou o
deputado.
Ele disse que seu escritório trabalha na área de contencioso
(disputas judiciais entre empresas ou entre empresas e Estado). O deputado
afirmou que também faz, eventualmente, "consultoria para empresas".
O
sócio de Campos Machado é seu primo, Wellengton Carlos de Campos, que foi
advogado do empresário Ari Natalino, indiciado por CPIs, inquéritos policiais e
investigações do Ministério Público sob as acusações de sonegação de impostos e
adulteração de combustíveis.
Em 9 de agosto de 2007, Wellengton foi
acusado pelo promotor de Justiça Arthur Migliari Júnior, numa ação penal de
natureza falencial, de ter sido procurador da empresa "offshore" (supostamente
criada e mantida por Natalino) River South S/A, com sede no paraíso fiscal das
Ilhas Virgens Britânicas. Segundo a denúncia do promotor, essa e outras empresas
ligadas a Natalino foram usadas para "lavar dinheiro proveniente dos crimes
praticados pelos denunciados".
Wellengton negou ligação com a lavagem e
disse que não advoga mais para Natalino. Afirmou que apenas atuou como
procurador da River South "com fins específicos, para representá-la na Receita
Federal e autarquias".
O advogado permitiu que a reportagem olhasse o
contrato assinado entre ele e seu primo. A empresa tem capital social de R$ 10
mil, divididos entre ele, Campos Machado (49% para cada um) e outra advogada (2%
das cotas). O contrato prevê que "aos sócios incumbidos da gerência serão
atribuídos pro labore mensais, fixados por comum acordo".
Wellengton
disse que o escritório é registrado na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). "Não
é um contrato de formação de ativo. A gente trabalha junto e divide os
lucros."
O advogado disse que o deputado recebe seus honorários "como
pessoa física". "Aqui é reunião de advogados. Pegamos o caso, eu trabalhei, ele
trabalhou, tiro as despesas do escritório, para abrir o processo, e dividimos os
honorários". Wellengton disse que as atividades do escritório são amplas. "Nós
fazemos advocacia preventiva. Fazemos muito fusão, incorporação, intermediação,
às vezes venda de empresas, não é muito o nosso forte, mas já
fizemos."
Na comparação entre as declarações de bens entregues por Campos
Machado à Justiça Eleitoral, seu patrimônio total saiu de R$ 4,19 milhões, em
2006, para R$ 5,7 milhões em 2008. Corrigindo os erros atribuídos ao seu
contador, e que o deputado disse ter detectado em suas declarações, o valor
correto de 2006 seria de aproximadamente R$ 4,7 milhões.
Da Folha
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